sexta-feira, 30 de outubro de 2009

EU - TRABALHO DE FACULDADE - 1° PERÍODO


“Experiência não é o que acontece com você, mas o que você faz com o que acontece com você.”  (Aldous Huxley)


 O ano de 1984 foi marcado pelo movimento das diretas já, que começava a garantir ao povo brasileiro um futuro cheio de mudanças.
A partir de 28 de junho do mesmo ano, muda também a vida de meus pais.
Em Belo Horizonte, cidade na qual moro até hoje, minha família começou a ver o futuro com outros olhos e posso dizer, usando as palavras deles, com muito mais alegria.
Filha única, nasci com um nevus gigante piloso, tipo bota no membro inferior esquerdo. Traduzindo para o bom e leigo português, uma pinta gigante e peluda, abaixo do joelho esquerdo chegando até a articulação do pé, que se não fosse retirada poderia evoluir para um melanoma, ou seja, um câncer de pele.  A retirada foi realizada com apenas 6 meses de vida e foi necessária também a retirada de parte da musculatura devido a profundidade do nevus, o que prejudicou o desenvolvimento e formação do pé e da perna. 
Contabilizando todas as cirurgias já feitas para correções ortopédicas, acumulo 8 intervenções muito bem sucedidas em meu currículo. A última me rendeu a convivência de 1 ano e 6 meses com um fixador externo chamado Ilizarov. Minha perna foi alongada 4 cm e meu pé finalmente teve um calcanhar, o que me permitiu usar os tão almejados sapatos de salto alto, saltos esses de somente 5 cm, mas que para mim são verdadeiros saltos Luiz XV.
            Todas essas cirurgias e acontecimentos foram fundamentais para a minha formação pessoal e profissional.  
            Estudei no Colégio Pio XII durante o ensino fundamental, de onde só tenho memórias boas e fui muitíssimo feliz e no Colégio Pitágoras durante o ensino médio, no qual minha mãe era professora de química e onde fiz grandes amigos, apesar de nunca ter me identificado com o perfil dos alunos, que discriminavam o diferente e o novo.
Tentei meu primeiro vestibular para fisioterapia em 2001. Como sempre freqüentei as clínicas para minhas recuperações e a área da saúde sempre foi muito próxima e palpável, achei que seria uma boa idéia. Retribuir o que tantos já fizeram por mim também seria possível através dessa profissão.
            Minha trajetória no curso do UNI-BH durou 3 anos. Anos de muito aprendizado profissional, amadurecimento, sobretudo, conhecimento pessoal. Fiz estágio com grandes nomes da ortopedia e da fisioterapia mineira e também pesquisas científicas. Entendi o que é ser um bom profissional, o que é estudar, aprendi a respeitar quem tem algo coisa a me ensinar (pacientes, colegas, professores, amigos ...) e finalmente, entendi também o que haviam feito comigo nas 8 operações e o motivo de cada procedimento. Mas a falta de uma perspectiva de emprego e de futuro me deixavam cada vez mais infeliz e mais desmotivada. Em 2004 participei de um torneio de tênis para cadeirantes (esporte paraolímpico) como fisioterapeuta e pude perceber que me interessei muito mais com a parte de organização, comunicação e divulgação do evento.  Foi quando tomei coragem e decidi que acabando o 6º período deixaria o curso.



Eu e Luiz - Atleta Paraolímpico - 2004


            Em janeiro de 2005 meu pai se formou em administração, e minha mãe estava saindo da sala de aula e ocupando o cargo de coordenadora, o que contribuiu ainda mais para a minha decisão, pois meus pais são exemplos, e assim como eles, quero ser uma profissional exemplar, que cresceu dentro de uma empresa e fez carreira e sucesso porque realmente é capaz e merecedor. Não foi fácil, tive orientação psicológica e vocacional para ter certeza da minha decisão. Além é claro da orientação dos meus pais, que sempre participaram de minhas escolhas e sempre estiveram muito presente nos momentos mais importantes.
            Contrariando a família, em agosto de 2005 já não estava mais na faculdade e resolvi dedicar-me ao meu avô que permaneceu internado por 6 meses, antes de falecer ao final do ano,  e à minha família que precisava de um auxílio e apoio para as atividades mais burocráticas do tratamento.
Comecei nessa mesma época a procurar um programa de intercâmbio com o objetivo de aperfeiçoar a língua inglesa, que já estudava há 6 anos, e de me conhecer melhor. Fui então para a região de South Lake Tahoe, na Califórnia–EUA, onde trabalhei 5 meses como caixa em um dos cassinos da cidade. Atendimento direto ao cliente, fluência em inglês e integração com pessoas do mundo inteiro e de culturas tão distintas foram características que me fizeram escolher a área de comunicação para o novo vestibular.




Horizon Casino Resort - Lake Tahoe - California - 2005



Golden Gate - San Francisco - CA - EUA - 2006
                        
Como o curso de Jornalismo, minha primeira escolha, era de manhã e assumi a responsabilidade de pagar pelos meus estudos quando larguei o UNI-BH, conversei com uma atual colega de sala e decidi pelo curso de Relações Públicas, curso para o qual passei em primeiro lugar no vestibular de 2007.                                                                                                 
Hoje, com 23 anos e um pouco mais segura em relação às minhas vontades e opiniões vejo que sempre estive relacionada com a área de comunicação. Meu primeiro grande contato com o mundo cultural foi através do quadrinho japonês, o mangá. Em 1999, minha prima e eu, então com 15 anos, nos juntamos a um fã-clube que tinha como objetivo divulgar a arte japonesa em Belo Horizonte, o ODAC (Otaku Densetsu Anime Club). Assumimos a presidência em 2000 e realizamos vários eventos junto à prefeitura de Belo Horizonte, entre eles o FIQ (Festival Internacional de Quadrinho) e outros eventos menores, mas que recebiam sempre um público próximo a 400 pessoas. Durante os eventos sempre trabalhei na parte de organização, comunicação e divulgação dos projetos.
Além do ODAC, minhas referências culturais se basearam nas influências familiares. Peças de teatro, a música, exposições no museu da Pampulha e a dança, em especial o forró, sempre estiveram muito presentes na minha vida durante os passeios e festas familiares.  Além é claro dos livros, sendo os últimos dois lidos: Caçadores de pipas – Khaled Hosseini e Relacionamentos Estratégicos: a chave do sucesso nos negócios – Leonard Greenhalgh. 
Não posso deixar de citar aqui os passeios nas cidades históricas do interior de Minas, como Ouro Preto e Sabará e que muito contribuíram para que o carnaval, festa popular pela qual espero ansiosamente o ano inteiro, fosse festejada na cidade histórica de Diamantina, recanto de 5 carnavais e onde uma turma de amigos se encontram e formam a Turma dos Cotonetes”.
Atualmente trabalho como auxiliar de pesquisa de dois professores. Um deles defenderá sua tese de doutorado no final de agosto pela Unicamp e a outra em fevereiro de 2008 pela mesma universidade. Ambas as teses estão sendo feitas com a metodologia da História Oral, o que me ajuda na compreensão de termos técnicos, na elaboração de trabalhos próprios e na valorização da pesquisa acadêmica como crescimento pessoal e profissional.
            Seguindo as palavras de Aldous Huxleytransformei os acontecimentos de minha vida, em experiências maravilhosas. Em alguns momentos chorei, em outros só tive felicidade, mas em todos, sem exceção, tenho a certeza de ter vivido da melhor forma e intensamente, me doando e sempre tentando fazer as melhores escolhas


Agosto de 2007




O texto é antigo, faltam fotos para ilustrar. Mas para um começo acho que tá bom!


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